quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pior Idade por Jock Dean


No século XVII o conceito de infância como conhecemos hoje, não existia no mundo ocidental. As crianças eram vistas como “adultos em miniaturas”. Quando mostravam força, eram postas para trabalhar e assumiam responsabilidades de adultos, como o casamento, logo no início da puberdade, aos 12, 13 anos. Mais que isso, antes da Idade Moderna, a infância não passava de uma loteria entre a vida e a morte, pois as crianças morriam com muita facilidade devido à situação de negligência em que viviam.

Esse conceito, bem como o de família e vida adulta evoluiu ao longo dos séculos e o entendimento que temos hoje é herança, principalmente, dos ideais Iluministas. Na pirâmide social, ao longo do desenvolvimento sócio-cultural da humanidade, os adultos conquistaram o topo, mas os idosos, vistos como experientes e sábios, portanto dignos de respeito extremado pelos mais jovens, já estiveram no melhor lugar.

Porém mais recentemente, a juventude, ou os atributos tipicamente relacionados a ela, tem ganhado mais destaque nas relações sociais e, ainda que os jovens não ocupem o lugar mais alto da estrutura social, são suas características, como virilidade, força e sagacidade, que garantem o melhor lugar ao sol e no já tão preconceituoso mundo gay isso fica muito evidente quando falamos das cacuras ("bichas velhas"). É notória a desvalorização social e sexual das pessoas mais maduras, em especial entre os homens homossexuais.

Bastam cinco minutos em um local de ‘caçação’ que, ao menor sinal de um gay que já tenha passado dos 40 e sem muito cuidado estético com a aparência, também à procura de uma transa fortuita, que logo começa a sessão de piadas perjorativas como: “vai pra casa, tia!”; “veio buscar o netinho vovó?”. Ou quando não se diz coisas ainda mais pesadas: “o que essa velha quer aqui?”; “essa cacura não tem vergonha de ficar caçando com essa idade?”.

E tem ainda aqueles jovens gays que só se aproximam do “tio” por que ele tem um carro do ano, oferta presentes interessantes, enfim, tem algo além do seu corpo e afeto para oferecer. Claro que há entre esses muitos homens que nunca tiveram coragem de assumir sua sexualidade e passam a vida procurando o seu verdadeiro prazer nos locais que lhe são possíveis. Mas há também os que são rejeitados pura e simplesmente por “serem velhos”.

Ora, parece que nos esquecemos envelhecemos todos os dias, pior, empurramos essa parcela da comunidade LGBT à solidão como se ela não tivesse direito ao sexo, ao prazer, ao orgasmo, ao afeto, à felicidade. Ou talvez até saibamos disso, mas de forma equivocada, afinal, quantas vezes já ouvi meus amigos gays falarem que precisam arrumar alguém antes dos 30 anos por que senão terão o mesmo destino “daquele velho que vive caçando no banheiro do shopping”.

Engraçado como não queremos isso para nós, mas não nos importamos nem um pouco se contribuímos para que a vida do outro assim seja. Egoísmo? Imaturidade? Um pouco de ambos, talvez. No mundo sexual masculino parece haver uma super-valorização de um comportamento sexual baseado no princípio da quantidade. Um jovem tem maior facilidade de transar mais homens em uma única tarde de sauna gay, sua virilidade juvenil lhe garante isso.

Mas e quando formos a cacura da vez? Como lidaremos com nossa falta de resistência física para aproveitarmos uma tarde inteira da nossa tenacidade sexual? Tudo bem que ao longo da vida nossas prioridades sexuais e afetivas mudem, mas não custa lembrar que o caminho que estamos trilhando hoje foi construído pela “tia velha do banheiro” e que temos muito que aprender com ela, com suas dificuldades, erros e acertos.

E o mais importante, não custa lembrar que respeito é algo do qual nunca abrimos mão, em qualquer fase da vida. Há sim os que preferem os homens mais velhos, assim como há os que se excitam com os “gordinhos”, os que tem fetiche pelos meninos "magrinhos”, ou os que só se atraiam pelo saradão da praia. Nada mais normal. O desejo sexual é um leque imenso e inexplorado de possibilidades, mas isso não nos dá o direito de esnobar o que não nos enche os olhos. Beleza, atração, charme não são coisas que perdemos com a idade, apenas passamos a expô-las com outros tons.